sexta-feira, maio 18

{da série: coisas que eu amo}

Um novelo de linha e uma flor = uma combinação explosiva de criatividade.

{os amantes não contam nada de novo uns aos outros}

A alma só acolhe o que lhe pertence; de certo modo, ela já sabe de antemão tudo aquilo por que vai passar. Os amantes não contam nada de novo uns aos outros, e para eles também não existe reconhecimento. De facto, o amante não reconhece no ser que ama nada a não ser que é transportado por ele, de modo indescritível, para um estado de dinamismo interior. E reconhecer uma pessoa que não ama significa para ele trazer o outro ao amor como uma parede cega sobre a qual cai a luz do Sol. E reconhecer uma coisa inerte não significa identificar os seus atributos uns a seguir aos outros, mas sim que um véu cai ou uma fronteira se abre, e nenhum deles pertence ao mundo da percepção. Também o inanimado, desconhecido como é, mas cheio de confiança, entra no espaço fraterno dos amantes. A natureza e o singular espírito dos amantes olham-se nos olhos, e são as duas direcções de um mesmo agir, um rio que corre em dois sentidos, um fogo que arde em dois extremos.E então é impossível reconhecer uma pessoa ou uma coisa sem relação connosco próprios, pois o acto de tomar conhecimento toma das coisas qualquer coisa; mantêm a forma, mas parecem desfazer-se em cinzas por dentro, algo delas se evapora, e o que resta é apenas a sua múmia. É por isso também que não existe verdade para os amantes; seria um beco sem saída, um fim, a morte do pensamento que, enquanto estiver vivo, se assemelha à fímbria arfante de uma chama, onde se abraçam a luz e a escuridão. Como pode uma coisa iluminar onde tudo é luz? Para quê a esmola do que é seguro e inequívoco onde tudo é plenitude? E como podemos ainda desejar alguma coisa só para nós, ainda que seja aquilo que amamos, depois da experiência que nos diz que os amantes não se pertencem, mas têm de se dar em oferenda a tudo o que vem ao seu encontro e se oferece aos seus olhares entrelaçados? [destaque meu]

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

segunda-feira, maio 7

{o sono como condição de saúde}

Eu presto homenagem à saúde como a primeira musa, e ao sono como condição de saúde. O sono beneficia-nos principalmente pela saúde que propicia; e também ocasionalmente pelos sonhos, em cuja confusa trama uma lição divina por vezes se infiltra. A vida dá-se em breves ciclos ou períodos; depressa nos cansamos, mas rapidamente nos relançamos. Um homem encontra-se exaurido pelo trabalho, faminto, prostrado; ele mal é capaz de erguer a mão para salvar a sua vida; já nem pensa. Ele afunda-se no sono profundo e desperta com renovada juventude, cheio de esperança, coragem, pródigo em recursos e pronto para ousadas aventuras. «O sono é como a morte, e depois dele o mundo parece recomeçar de novo. Pensamentos claros surgem firmes e luminosos, como estátuas sob o sol. Refrescada por fontes supra-sensíveis, a alma escala a mais clara visão» [William Allingham].

Ralph Waldo Emerson, in "Inspiration"

{Freud + Florbela Espanca = combinação explosiva de sabedoria}

sábado, maio 5

{um cupcake}

... para o meu amorzinho Paulo Milton.
Que, docemente, passa para a casa dos 9.
Você é amor na minha vida e na vida da tia Lica.

{a doce incerteza do romance}

Não vejo nada de romântico numa proposta de noivado. É certo que é romântico uma pessoa estar apaixonada. Mas numa proposta concreta não há romance nenhum; podemos até vir a ser aceites, e na grande maioria dos casos é isso que acontece, segundo creio, cessando nesse momento qualquer excitação. A própria essência do romance é a incerteza. Se algum dia me casar, farei tudo para me esquecer desse facto.

Oscar Wilde, in 'A Importância de se Chamar Ernesto'

sexta-feira, maio 4

{texto lindo}

Eu já tinha até desejado um café da manhã na cama para vocês, queridos leitores. Mas, quando li este texto que recebi por email da minha prima Mílcia, eu achei que deveria voltar e entregar  - em mãos - uma cópia destas palavras de perfeição combinadas com sabedoria.

Acrescentem-nas ao seu café da manhã na cama. E deliciem-se com a essência e o sabor que elas vão dar à sua vida.

Beijo doce!!!

Se eu tivesse que escolher uma palavra
- apenas uma - para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar.
Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho.

Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos - e merecemos - ter.

Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna.
Amizade, por exemplo.
Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano.

E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas.
Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango
e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz bem para a pele.

Para a alma, então, nem se fala.

Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso)
e desfrute os prazeres que só uma boa amizade consegue proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio.

Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia - não importa - e a ficar em silêncio.

Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir.
Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada.
Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia.
Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada - faça qualquer coisa, mas ria.
O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.
 
Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias.

Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar.

Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde sozinha.

Uma sugestão?
Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza.

Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada.
Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.

Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar.

Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Richard Gere...
sonhar é quase fazer acontecer.
Sonhe até que aconteça.

E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares.
A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição.

O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites.

Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil.

Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni.
Mulheres reais são mulheres imperfeitas.
E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres.
Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.

Leila Ferreira

{da série: desejos de sexta}

... um final de semana com café na cama para você, querido leitor!!!

{ninguém se conhece a si mesmo}

Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente.

Luigi Pirandello, in "Um, Ninguém e Cem Mil"

quinta-feira, maio 3

{a nossa casa}

A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

terça-feira, maio 1

quinta-feira, abril 26

{deu na imprensa: Coluna do Vagno}

MERCÍ
Fiquei feliz, emocionado e muito agradecido pelo poema que a blogueira Emanuelle Modesto postou no seu blogdamanuca.blogspot.com.br “Costurando A Vida – Manu ao Pé da Letra”, o Monólogo de Orfeu, oferecido carinhosamente para mim. Grato à minha mais recente e já antiga amiga, Manu. Poemas, nos traduz de maneira singular!
***
Vagno, a sua emoção me emociona. Beijos no coração.

{uma mulher chamada guitarra}

Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam un mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina - viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo - o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres- contrabaixo.
Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em beneficio de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.
Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.
Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado - contra o peito - lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seu tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.

Vinicius de Moraes

{aviso de chegada}

LeitorEs, queridOs!!!

Vamos iniciar aqui um Correio Feminino. Vamos falar sobre tudo o que agrada a alma feminina e que os homens - por sua vez - devem anotar numa caderneta rosa. Vamos trocar ideias geniais sobre a vida e traçar um olhar discreto sobre o universo que nos acolhe. A proposta é boa!!! ... eu sei disso.
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Visualize ai uma porta. Nela está escrito assim: TODA MULHER PODE ENTRAR E SENTAR [ENTRADA LIVRE]!!!. E TODO HOMEM PODE ENTRAR [IDENTIFIQUE-SE NA PORTA] - SÓ SE ESTIVER DISPOSTO A DAR LUGAR À MULHER QUE SOBREVIVE GRITANDO DENTRO DELE. SE NÃO, VOLTE DEPOIS.
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Sejam todos bem-vindos!!!